Introdução
Nossa audição é certamente o sentido mais importante para nossa convivência e desenvolvimento social pleno tendo em vista que a comunicação e nossa capacidade de contar estórias foi, segundo Harari (1), um marco fundamental no destaque dos Homo Sapiens como espécie. Sendo assim, o diagnóstico precoce de uma perda auditiva na infância é crítico, possibilitando que medidas corretivas minimizem os impactos da deficiência auditiva. Nesse post vamos discutir como fazemos o seguimento de recém nascidos para diagnosticar perdas auditivas congênitas, isto é, que existem desde o nascimento. Em um próximo post (Atraso de Fala), vamos falar dos sinais de alarme em crianças mais velhas (maiores de 1 anos) que tem alguma deficiência auditiva que ou não foi identificada precocemente ou surgiu depois do processo de avaliação inicial.
Triagem Auditiva Neonatal Universal
Segundo The Joint Committee on Infant Hearing (2), instituição multiprofissional norte americana responsável por estabelecer diretrizes para a saúde auditiva, a identificação tardia de uma perda de audição determina atraso no desenvolvimento de fala e linguagem com impactos na vida acadêmica, capacidade intelectual, além de repercussões emocionais e sociais. Por esse motivo, essa instituição assim como o COMUSA (Comitê Multiprofissional em Saúde Auditiva - Orgão Brasileiro) atualizam periodicamente as diretrizes para a Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU). Esse algoritmo determina o que deve ser feito em termos de testes, desde o nascimento de uma criança até o seguimento ao longo de sua infância visando garantir a saúde auditiva e a reabilitação adequada em caso de deficiência.
Teste da Orelhinha
O primeiro passo no diagnóstico de perdas auditivas acontece ainda na maternidade ou no máximo no primeiro mês de vida. Trata-se do Teste da Orelhinha, cujo nome técnico é Teste de Emissões Otoacústicas. Neste exame, seguro, rápido e indolor, um aparelho é introduzido no canal auditivo do recém nascido. Esse aparelho emite sons e capta ruídos que mostram que o sistema auditivo da criança funciona. Em outras palavras: para conseguirmos ouvir, existem células especiais chamadas Células Ciliadas Externas (Ver Vídeo a Seguir). Essas células, quando captam um som, se contraem e isso gera um ruído que é percebido pela sonda do aparelho.
Fisiologia Audição: Animação da Alila Medical Media adaptada com aquisição de direitos autorais
Quando o aparelho não capta esses ruídos produzidos pelas nossas células auditivas, dizemos que a criança falhou no teste e isso pode significar que ela tenha uma perda auditiva. Como o teste é muito sensível, mas pouco específico, ou seja, ele pode dar errado mesmo sem nenhuma doença, o passo seguinte é repetir o exame junto com uma avaliação de um Otorrinolaringologista, preferencialmente um Otologista (especialista em ouvido) e um Audiologista (Sub-Especialidade da Fonoaudiologia).
BERA (PEATE)
Caso a avaliação e o novo exame continuem sugestivos de uma perda auditiva, novos exames serão realizados. Um desses exames é o BERA ou em português PEATE (Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico). É uma espécie de Eletro-encefalograma, isto é, ele identifica a eletricidade que é emitida pelo nosso cérebro quando está em funcionamento. No BERA um estímulo sonoro é apresentado para o paciente e eletrodos colados na testa captam se esse estímulo gerou atividade no encéfalo, comprovando o funcionamento das vias auditivas. Um exame de BERA normal é laudado como: Integridade das vias auditivas centrais. Por outro lado, caso não sejam observadas ondas de atividade elétrica após o estímulo, dizemos que houve Ausência de Resposta no exame e iremos continuar a investigação da perda auditiva e iniciar as medidas de reabilitação conforme o tipo e a gravidade da perda.
Os tratamentos em caso de Surdez Congênita
Na maioria das vezes em que observamos perda de audição, ela não é total e, nesses casos, a terapia de apoio escolhida é o uso de aparelhos auditivos convencionais. Nos casos em que essa perda é muito severa e mesmo com uso de aparelhos não observarmos boa resposta, uma opção terapêutica pode ser o Implante Coclear. Trata-se de um dispositivo que capta o som, transforma ele em eletricidade e envia essa informação através de um eletrodo. A cirurgia do implante coclear consiste em colocar esse eletrodo dentro da cóclea, local onde se encontra o nervo auditivo que irá captar esse estímulo elétrico gerado pelo implante e levar até o nosso cérebro. Seja com uso de aparelho auditivo ou na indicação de implante coclear, o acompanhamento Fonoaudiológico é fundamental e o aprendizado de LIBRAS essencial para a garantia de um método de comunicação.
Conclusão
Toda criança ao nascer deve passar pelos testes de audição para excluir uma surdez congênita. Testes como o da Orelhinha e o BERA são ferramentas diagnósticas importantes, mas, somente com o acompanhamento otorrinolaringologico e fonoterápico adequado é possível o sucesso na acquisição de linguagem e no combate aos efeitos deletérios sociais e intelectuais da privação auditiva.
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Bibliografia
1 - Yuval Noah Harari, Sapiens: Uma Breve História da Humanidade; 2011
2 - JOINT COMMITTEE ON INFANT HEARING. Year 2019 Position Statement: Principles and Guidelines for Early Hearing Detection and Intervention Programs. The Journal of Early Hearing Detection and Intervention, v.4, n.2, p. 13–44, 2019.
4 - Novo Tratado de Fonoaudiologia - 3ª Ed. 2013
Sobre o Autor
Tomás Filipe Pellegrini Lopes é médico otorrinolaringologista da Otoliv.
Especializado em Otologia e Neuro-Otologia pela Santa Casa de São Paulo, atualmente é Mestrando em Saúde da Comunicação Humana e está desenvolvendo uma tecnologia para auxiliar na condução de pacientes que falham no teste da Orelhinha.
Parabéns pelo artigo Dr. Tomás, agradeço pelas informações. Abs
Muito claro e didatico Tomás, parabens pela iniciativa de criar uma nova metodologia para o assunto. Abraços
Muito bom o artigo, mas gostaria de saber o que fazer na perda auditiva nas pessoas com mais idade. Em casa somos um casal de 76 anos que estamos perdendo a audição.
Boa noite, obrigado